José Afonso

Chula do Póvoa

José Afonso


Em Janeiro bebo o vinho 
Em Fevereiro como o pão 
Nem que chovam picaretas 
Hás-de cair, Rei-Milhão 

Adeus, cidade do Porto 
Adeus muros de Custóias 
Cantando à chuva e ao vento 
Andei a enganar as horas 

Tenho mais de mil amigos 
Aqui não me sinto só 
Cantarei ao desafio 
Ninguém tenha de mim dó 

Ó meu Portugal formoso 
Berço de latifundiários 
Onde um primeiro ministro 
Já manda a merda os operários 

Já hoje muito maroto 
Se diz revolucionário 
E faz da bolsa do povo 
Cofre-forte do bancário 

Camaradas lá do Norte 
Venham ao Sul passear 
Cá nas nossas cooperativas 
Há sempre mais um lugar