José Afonso

Ali Está o Rio

José Afonso


Ali está o rio 
Dois homens na margem estão 
Um dá um passo, outro hesita 
Só um se aventura outro não 

Se o primeiro é destemido 
Será o outro um poldrão 
Do outro lado do perigo 
Só um se governa outro não 

Mal sobe a margem do rio 
Torna-se logo um patrão 
E se uma figueira dá figo 
Só um come o fruto outro não 

Tudo perdeu o primeiro 
Só não perdeu a razão 
Os dois passaram o rio 
Mas só um venceu outro não 

Ambos venceram o rio 
"Nós", dizem todos, mas não 
Ambos vencemos o rio 
A mim quem me vence é o patrão