Jorge Palma

O velho no jardim

Jorge Palma


Está um velho no jardim 
Com cabelos de algodão
Tem dois olhos côr de mar 
E uma cruz em cada mão
Uma cresce de um altar 
Outra é uma ilusão 
Continuo a subir 

Vejo um milhão de ideias falsas
Num crucifixo conjectural 
Concebido para salvar almas 
De asfixia existencial

Está um velho no jardim 
Que me olha com rancor 
Tem dois olhos de marfim
Afiados no pudor 
Mas as coisas que ele faz
Não parecem ter calor 
Continuo a subir 

Vejo uma vela adulterada 
Feita de sangue e de cetim
Garantida por dois mil anos 
Mas que está a chegar ao fim