Trovês e relâmpagos prenunciam a manhã Um lençol negro se destapa no horizonte A gadaria são pontos alvos na escuridão "Oigalê-te" chuva braba não froxa faz três "ontonte" Faz este paisano "recorre das oração" Várzeas e restingas alagadas O Ibicuí mostra pra o campo sua imponência Minha tubiana não troteia mais no torrão Espinilhos e figueiras forcejam com sua essência São abas largas para o abrigo deste rincão. Quero-queros são vozes perante o silêncio Fazem contraponto com o canto das cigarras Um filme passa na retina deste campeiro Mês passado já pelei mais de cinco garras Deus me ajude que aguente este janeiro. Este verão chuvoso que não para faz três dias Encharca o poncho e o horizonte de flexilhas Faz chorar a alma deste vivente incréu Renasce esperança no rincão de São Miguél. A chuva acalma e o mormaço toma conta É a regra antiga dos verões desta fronteira Até parece que o mundo todo silencia Só resta o ronco da tourada caborteira Abrindo cova no desdobrar de cada dia. Meu poncho amigo sempre minha companhia Sabe como ninguém das volteadas de uma enchente Teve comigo momentos tristes e de alegria Da rodada mais feia deste vivente A ternura plena de uma vaca de cria.