Sinto meu corpo gelado no lado esquerdo de um rio A roupa que veste o meu corpo é como um saco vazio Escuto ao longe um coro que me faz lembrar o choro do cristão Mesmo sentindo tão mal, lúcido como um cristal Vou num instante pra vila que havia perto de lá Por onde andei ninguém me viu, até parece que não existia Entrei em lares e lugares onde todo tipo de coisa acontecia Desde quedas de janelas, salto mortal de quimera Vendida à preço de feira para se acostumar Com a vida mal vivida, a cobra do mal imposto Vi tanta gente pequena se agigantando na cena Achando que vale a pena uma tragédia sincera No fim das contas é só mais um drama familiar Sinto meu corpo gelado quando atravesso o rio Que circunda o castelo soberbo, arrogante, frio Ouço lá dentro estão ditando as regras do jogo Vence quem mente melhor, ganha quem rouba sem dó. Parece truco a politica cética dos senhores Na corte todos são atores Enquanto isso na cozinha envenenaram a galinha Canjinha mais assassina para acabar com a sinhá Que pegou nego fugindo e mutilou só por gosto De bancar a suserana, dona do trigo, tirana Que com o reizinho na cama arma enormes intrigas Uma vida inteira entregue ao prazer da violência E a arte de julgar os outros com sua grande eloquência Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado Sinto meu corpo gelado nesse mundo dissipado