Na hora que o sol apeia do lombo largo da pampa Um poncho negro desaba e o dia muda de estampa Pelos galpões das fazendas voltam à cena os tições Formando a roda de mate, confessionário de peões Do escuro brotam guitarras tropeando notas inquietas Algum milagre acontece e campeiros viram poetas Vão despontando pajadas e trovas de rimas tortas Num ofertório de vidas até pras milongas mortas As vozes rudes se erguem ponteando o canto dos galos E as labaredas se agrandam como montando em cavalos Quem tem raiz nos arreios floresce em lombo de xucros A casco planta sementes das quais jamais colhe lucros E o pasto nas invernadas vive seus dias contados Em vez de vaca com cria vai ter tratores e arados Por esses peões em vigília junto do angico que arde Que o universo sangrando põe luto nos fins de tarde.