João Bosco

O Sacrifício

João Bosco


Há quem duvide mas vou contar
Coisas que o tempo não apaga
A vida assume grandezas tais
Que pouco importa serem fatais
É essa a história de irmãos leais
Numa remota mar-del-plata
Gonzalo amava Pablo demais
Laços de entranhas insensatas

Na cidade conta-se que um rapaz
Foi morto por falar demais
Nas rinhas de galo provocou Gonzalo
Pablo não pôde perdoá-lo

Que pode um homem diante de uma mulher?
Quando acontece o amor faz dos dois aquilo
[que quer]
Destinação
Como escapar
Nem reza, nem razão
Tudo escrito está
Jurado assim
Gonzalo se entregou:
"Quero essa mulher, que também me quer, e fim"

Há quem duvide, mas sabe lá
Os sentimentos pairam no ar
Gonzalo notou Pablo sofrer
Disse: "há ciúmes neste lugar"
Calou seu peito e foi lhe dizer
"Mulher que é minha é também tua"
Pablo sorriu, mas não pôde ver
O quão estranha estava a lua

Cada noite um dormia com a mulher
Como se amor já não houvesse
Cresce o desespero, como suportar
O quarto ao lado a sussurrar
Que pode um homem diante de tamanha dor?
Como escolher um amor sacrificando
[outro amor?]

Gonzalo viu
No coração
Que os deuses vendem
Quando achamos que dão

Faca na mão
"Oh, meu irmão, vem cá,
Pode me abraçar, já a tal mulher não há"