João Bosco

Beirando a Rumba

João Bosco


Grande cambará-preto
Sabor de sarrabulho soou
No gogó
Som de balafon seco
Na boca a pororoca explodiu
Tororó

Ê ê ê ê ê
Aiaô aiaô aiaô aiaô
Aeaê aeaê aeaê aeaê
Aeaô aeaô aeaô aeaô

Beirando a rumba
Cheirando a Cuba
Regando a tumba
Umbando a banda
Mambando a cobra
Dobrando Havana
Hablando o ganzá
Zanzando por lá
Cavando o baú
Caçando urubu
Na praia, na praia...

Minha sabedoria é um punhado de segredos mortos.
O que descobri até hoje, os tesouros que roubei,
nenhum deles brilhou mais do que um único dia,
um único momento.
Depois despenca uma cascata de sombras,
e uma enxurrada noturna leva o ouro dos meus dias.
Os dias, que eu saiba, não há um sequer
que não tenha anoitecido.
Isso é toda minha sabedoria.
Mas minhas noites, com seus martelos escuros,
esculpiram meu ser e fizeram de mim uma flecha.
Nada sei, mas de nada mais precisaria.