João Afonso

O Som Dos Sapatos

João Afonso


Penso em ti a noite inteira 
numa insónia não vencida 
seguir sozinho uma ideia 
os lugares da tua vida 

Na penumbra a luz dum verso 
que deixou de ter sentido 
dominó, enciclopédia 
horas de um tempo perdido 

A tua mão a passear 
tomba o aparo , gesto de espera 
ventos de guerra ,dado a rolar 
ecos dispersos ,"Rosas de Ermera" 

O homem que passa subiu a montanha 
caminha sem pressa, sem santo nem senha 
o som dos sapatos, a linha da vida 
a cor do tinteiro, derrama a saída 

A noite já desceu à terra 
no seu ventre se enrolou 
pousou na melancolia 
de um dia que já passou 

Já te disse o que não digo 
numa verdade mentira 
há um som breve que vive 
numa palavra que gira