João Afonso

Fugir Com o Cientista

João Afonso


Estaremos juntos separados como amantes 
nesta viagem com água sem retorno 
entre as queimadas vento norte viajante 
é o cacimbo africano Moçambique 

Ao terraço e à varanda do avô 
passeios da dimensão do anarquista 
ao teatro ao professor à fantasia 
no matope um sono de marimbas 

Limpidez das areias, tem 
em teias de caniço 
fugir com o cientista, tem 
estrelas a perder de vista 

São trovoadas que caem no capim 
o som do zinco o sentido às caminhadas 
passos compridos e a voz dos velhos sábios 
são a memória da sombra das acácias 

Ondas que cavam as areias do Bilene 
e as histórias que contava José Bila 
ventos parados ao subir às papaieiras 
e a maravilha do canto do magaíça 

Limpidez das areias, tem 
em teias de caniço 
fugir com o cientista, tem 
estrelas a perder de vista