De tanto gastar sovéus Perderam a conta dos calos Sempre ajeitando cavalos Pra serventia dos basto Trazem auroras de arrasto Junto as esporas crinudas Ponchos de alla nas cinturas E os chapelões bem tapeados Sombreando sonhos alçados Zombando tempo e lonjuras São os habitantes do arreio São os senhores do estrivo Não são os mesmos da tribo Que enfeitam cartões postais Esses encilham baguais Com pradarias no olhar Sabem de golpes no ar E de tirões campo a fora Quando um pavena se atora Cambiando o céu de lugar Assim é a sina dos quebras Que ensebam as de garrão Quando a Lua num tirão Vem arrastar madrugadas Ai mistério nas mateadas E no olhar dos melenudos Que acreditão nos jujos E num bocal bem sovado Tropilha xucra é um pecado Pra quem tem alma nas puas Pois mal o Sol cruza nas frinchas Listrando o negror dos ranchos E as nazarenas dos ganchos Lhe saltam nas garroneiras Duas estrelas boieiras Com ganas de pêlo mouro Que brilham no céu dos couros Quando um potro corcoveia É lindo ver num palanque Um ventena cosquilhoso Desses que arrancam o toso Lambendo o chão da mangueira Pra quem tem alma campeira Este convite é um "regalo" E esses não deixam cavalos Com ânsias de estrada e poeira Nem o rigor dos invernos Muda a feição desses tauras Tão pouco o lombo dos maulas Lhes tiram tino e razão Pois quando o braço fraqueja Lhes sobra n'alma destreza E anseios de um redomão Já no final da jornada Quando o chiar das cambonas Empecam cantigas velhas Para anunciar a mateada Um taura, afina a guitarra E ensaia um verso a preceito Quer ver se peala de jeito Os chucros olhos da amada Outro, co'a ideia distante Lá pela banda oriental Ajeita basto e bocal Mordendo um toco apagado Ginete ninguém segura Tá lejo a semana santa Mas já está de mala pronta Rumo as criollas del prado Assim vão cruzando a vida Tropeando o próprio destino Golpeando algum sonho antigo Que se perdeu pelos pagos Ou na ilusão dos teatinos Levam auroras de arrasto Junto as esporas crinudas Ponchos de allá nas cinturas E as almas presas nos tentos Com o rio grande a cabresto Pra fazer pátria e fronteira Além das vãs cordilheiras Nos prados do firmamento