Sou o que resta da velha estância Guardando o posto de muitas memórias Mas com pesar lembro o dia em que um baio Topou com um touro e tornou – se historia Foi bem assim Cavalo bueno criado na estância Tinha o respeito dos peões e do gado Touro maleva brasino e orelhano Não respeitava nenhum alambrado Naquele dia o embate de campo Mostrou que a vida é mais do que sorte Provou que o bicho é mais que instinto Juntando o touro o cavalo e a morte O touro Bufando as ventas respirava fúria Ódio vestido de couro brasino Que num trompaço quebrou a cancela Prestou serviço pra o rude destino O baio Nunca deu vez a animal desgarrado Mesmo sentindo o perigo a fio Então sem medo num salto ligeiro Tomou a frente do touro arredio A morte Veio na raiva nos olhos do touro Que se entranhou pelas aspas afiadas E sem piedade cravaram no touro Deixando a terra de rubro encharcada Enquanto o baio rinchava de dor Sangue valente escorria no pêlo Partiu com honra tem alma este bicho No céu dos pingos foi ser o sinuelo Naquele dia guardei mais que a imagem De um cavalo nas aspas fera Tem mais valor quem enfrenta o destino Esse é o relato da velha tapera A vida é assim