Um tiro de boleadeira E um balaço de garrucha Moldou-se a raça gaúcha Desconfiada e caborteira Quando a lança carneadeira De taquara chamuscada Era estandarte e espada Antes que houvesse fronteira Já morria a Redução E a catequese do monge Que o pajé olhava de longe Rezando a contra-oração Para que um Deus de outro chão Não matasse o que existia Porque pra ele servia A primeira religião Não conseguiram domá-lo Muito embora a cruz ficasse E desse embate sobrasse Um misto de touro e galo Por entre assobios de pealo De barbárie e de ternura Definindo uma cultura Sobre o lombo do cavalo E do berro desse touro Que repicava na Ibéria Correu o sangue na artéria Índio, pampa, luso e mouro Mistura de clin de couro Sem dono, sinal nem marca Que foi liberto de monarca Desde o primeiro namoro Qual o guasca que não venha Dessa raiz ancestral Que foi o ponto inicial Brasa da primeira lenha? A senha e a contra-senha De negro, de bugre e gringo Gaúcho de pampa e pingo Tenha a mistura que tenha!