Cabo de madeira branca E a folha de palmo e meio, Esta faca que palmeio, Sovando uma palha "buena", Larga, assim, como novena Nas festanças do Divino, Foi presente do Galdino Filho da Dona Pequena! Na prancha meio azulada Deste regalo campeiro, Está gravado um coqueiro Assim como um distintivo Que me faz lembrar, altivo, O charrua melenudo, Bombeando longe, sisudo, O velho solo nativo! É nesse ferro crioulo Que o meu fôlego embacia, A cancha reta bravia Por onde o fumo se espalha, Com ele eu ajeito a palha, Lonqueio, e aparo crina, E a barba, p'ra ver a china Quando não tenho navalha! Quando corto num churrasco Deixo branqueando o espeto, E se na encrenca me meto Não sobra garrão inteiro, Pois este ferro campeiro De ponta, como de prancha Tem mania de abrir cancha No costilhar do parceiro! Por isso é que ao te palmear, Sovando a palha do milho Eu sinto, ó rude utensilio, Que muito primeiro que eu O guasca já te benzeu Quando num berro de touro, Junto ao "bendito" de couro Nalgum rival te embebeu! E ao te arrancar da bainha De ponteira reforçada, Evoco a rudez passada Do teu áspero trajeto Quando o xiru analfabeto Contigo de companheira Nas andanças da fronteira Lonqueava o nosso dialeto! Traste mil vezes relíquia Por ser presente de amigo; Hei de levar-te comigo Sempre ao alcançe do braço E acolherar no teu aço O Presente e o Passado Até que pranche enredado Por algum "seio de laço"! E fica certo, Galdino, Ao te agradecer de novo, Que no singelo retovo Do meu gauderiar sem norte, Esta faca, enquanto corte, Até os últimos momentos, Há de estar lonqueando os tentos Da nossa amizade forte!