Eu vim de longe, de onde a chuva é coisa rara Onde a gente sofre e cala, dia e noite sem parar Eu sou de um povo que não deixa pra depois Sou de onde agarra o boi a unha no carrascal Não tive escola não escrevo sou grosseiro Mas porém sou brasileiro deste céu azul de anil Durmo em baixeiro estendido no pedregulho Mesmo assim eu me orgulho de ser filho do brasil Perdi meus pais, cresci no mundo sozinho Andei por muitos caminhos, sempre escolhendo o melhor Passando fome fui vivendo e aprendendo Devagar fui compreendendo que a verdade é uma só Topei com a onça certo dia na cancela Perseguindo uma vitela, cuja mãe tinha morrido Só sei dizer que a nossa luta foi tão feia Sangue que manchou areia foi do animal vencido Como a serpente que ninguém chegava perto Na tocaia do deserto quatro homens fui topar Quatro sujeito, quatro cabras indecentes Tombaram na areia quente sem ter tempo pra rezar Segui um rastro de um sujeito macumbeiro Que tinha dez cangaceiros mais veloz do que um puma Cruzei fronteiras sem temer nenhum fracasso Na justiça do meus braços desordeiro não se apruma Você seu moço, que só vive na cidade Não conhece a verdade que se passa no sertão Aonde o homem Faz a lei na pura bala Onde a gente nem não fala, pra não perder a razão Fui cara a cara, peito a peito, frente a frente Vi tombar um inocente Nas garras de um valentão Brigaram tanto por causa do ordenado Um deles era o empregado e o outro era o patrão Quem fere a ferro, com ele vai ser ferido Por Deus nada é esquecido, liberdade, paz e amor Só a justiça vence no juízo final Quando tudo for parar Na balança do senhor