Eu tenho em meu escritório, em cima da minha mesa A miniatura de um carro, que a todos causa surpresa Muitos já me perguntaram, o motivo porque foi Eu sendo um doutor formado, gostar de um carro de boi Respondi foi com o carro, nas estradas a rodar Que meu pai ganhou dinheiro, pra mim poder estudar Enquanto ele carreava, passando dificuldades As lições eu decorava, lá nos bancos da faculdade Se eu tenho as mãos macias, eu devo tudo ao meu pai Que teve as mãos calejadas, nos tempos que longe vai Cada viagem que fazia, naquelas manhãs de inverno Era um pingo do meu pranto, nas folhas do meu caderno Meu pai deixou essa terra, mais cumpriu sua missão Carreando ele colocou, um diploma em minhas mãos Por isso guardo esse carro, com carinho e muito amor É lembrança do carreiro que de mim fez um doutor. Era quatro e meia passada um pouquinho,um fosco clarinho rasgava o varjão Era o trem noturno que vinha apontando, e logo parando na velha estação Meu corpo tremia meus olhos molhavam, o meu pai do lado e a mala no chão Beijei o seu rosto e disse na hora, o mundo lá fora me espera paizão Eu nunca esqueci o que o velho falou, o tempo passou e pra casa eu voltei Quem fica distante jamais se conforma, lá na plataforma meus pais avistei Desci comovido abracei ele e ela, e a mala amarela meu filho não vi Meu pai acredite na fala de um homem, pra não passar fome a mala eu vendi Que pena, que pena era minha lembrança, que eu trouxe de herança do seu avô Mas deixa pra lá eu vou me esquecer, a herança é você e você já voltou