O que faz esse homem sentado ai na calçada Bem longe da fronteira Bem longe, distante...Da civilização. O que pensa esse homem calado Olhando para as aves Será que também perdeu suas asas Perdeu sua libertação. Ele como muitos outros de seu povo, Acha que o paraíso está do outro lado Arriscam sua vida na travessia da fronteira Com bolsas pesadas, correndo dentro do mato. Hei, João não pense que eu te acuso. Sentir medo não é culpa nossa. Mas por favor, vê se não abusa. Atravessar uma fronteira, não é como atravessar a porta. O coiote vem explicando o lugar certo pra passar. Todos muito atentos só a escutar. E João na espreita prestando muita atenção, Nas palavras do tutor coiote que passava as instruções. Vai! Ta na hora, não deixe a escolta te pegar. Sai! Da minha frente, abre o caminho pra mim passar. Ele como muitos outros de seu povo, Acha que o paraíso está do outro lado Arriscam sua vida na travessia da fronteira Com bolsas pesadas, correndo dentro do mato. E agora já do outro lado Cada imigrante segue o seu caminho Cada um para o seu lado João Viana agora está sozinho Consegue um emprego. De faxineiro de hotel Agora vê que aquilo não é o céu. Não fala muito Pra que não notasse o seu sotaque Ou que por precaução. Ninguém pedisse o seu passe. Sabia falar inglês Mas o seu sotaque a ninguém engana Isso é uma coisa que é sua por direito Pra ele uma qualidade insana. Pois atrapalhava seus planos De ir para o estados unidos Realizar seus sonhos. Ele como muitos outros de seu povo, Acha que o paraíso está do outro lado Arriscam sua vida na travessia da fronteira Como animais correndo pra não ser caçado. Cinco anos depois Já tem algum dinheiro Agora é atendente No hotel onde era faxineiro. Casou-se com uma americana E ganhou o seu passe livre naquele país. João Viana se sentia cada vez mais feliz. Com seus dois filhos E sua mulher Sua família é linda o que mais que você quer? Já havia crescido financeiramente Morava em um bairro seguro. Trabalhava e estudava Pensando em seu futuro. Fim de semana com as crianças Churrasco em seu quintal Festa com os vizinhos Tudo clima de carnaval. Mas alguma coisa não deixava contente Tinha alguma coisa te impregnando E todos sem saber O que João Viana estava pensado Ele senta na calçada de sua casa Ele olha bem distante a fronteira Sente que deixou alguma coisa para trás Mas não se lembra, por mais que queira. Fica assim calado olhando pro horizonte A fronteira longe, distante da cidade. João Viana agora bem distante Conhece infelizmente a saudade. Ele como muitos outros de seu povo, Acha que o paraíso está do outro lado Arriscam sua vida na travessia da fronteira Pra finalmente descobrir o que é saudade.