Inezita Barroso

Conversa de Caçador

Inezita Barroso


Ói que eu num sô mentiroso
Nem gosto de embromação
Mas vô contá uma caçada
Que eu fiz lá no meu sertão

Peguei uma onça à unha
Lá no fundo do grotão
Garrei nas oreia dela
Enterrei o meu facão

Ai, ai, ai, ai
Né mentira, não
Pode querditá
Sou caboclo bão

Eu saí de madrugada
Montado no meu pimpão
Quando topo cá pintada
Trepadinha no moirão

Eu vi que não dava tempo
Da espingarda eu carregá
Eu garrei no rabo dela
E dei duas vorta no ar

Ai, ai, ai, ai
Né mentira, não
Pode querditá
Sou caboclo bão

Encontrei um lobisome
Passeando na capoeira
Sortava fogo pra boca
Pro nariz a fumacêra

Fui chegano de mansinho
Disse prele sem tremê
Me dê um pouco de fogo
Pro meu pito eu acendê

Ai, ai, ai, ai
Né mentira, não
Pode querditá
Sou caboclo bão

Vi um bando de capivara
Nadano no riberão
Ranquei a roupa e timbum
Fui firme no merguião

Quando saí do outro lado
Ói que não é mentira, não
Tinha oito capivara
Espetada no facão

Ai, ai, ai, ai
Né mentira, não
Pode querditá
Sou caboclo bão

Ai, ai, ai, ai
Né mentira, não
Pode querditá
Sou caboclo bão