Um homem de cueca na janela Passeando Assiste do apartamento todos os vizinhos Que vão chegando Enjoa, zanza na sala, liga a tevê Vai mexendo os canais E o canto do prédio ao lado Chega aos ouvidos do rapaz. Estranho, ainda hoje, ainda se ouve A nau da canção Navega pelo cimento, pelo concreto Toca a razão O homem de cueca vai pra janela Pra escutar melhor A música maravilhosa Conta os desejos, hoje pó. É a correria da vida, muitos socados e sós Pelos buracos da vida, os conjugados e o nó Dessa cidade dá dó Mas uma voz por aí se espalha e talvez Traga o sorriso ao mulato que o dia desfez Quando essas notas ecoam no peito Produzem efeitos devassos Devassos, devassos. Um homem de cueca na janela Assobiando E quando despe a peça, todos os vizinhos Estão olhando E o vento meio abafado, entra no quarto Levando a canção De alguém que ninguém ouve Força escondida, ebulição.