Venho de um tempo onde o tempo não havia Quando o azul do céu não nos queimava E a noite, antes de ser noite era dia E a tarde antes de ser, nunca tardava Venho de um tempo onde toda a solidão Não se sabia, meu amor, não se sabia Era mais clara a cor agreste da paixão E a desventura não havia, não havia Tenho um poema que não quero revelar Seara brava, lua cheia, quem me dera Breve novembro onde encontrei o teu olhar Para me perder de uma só vez na primavera Rasguei o medo de viver, rasguei a sorte Provei o fel das minhas mágoas e fracassos Pedi à vida para viver até à morte Pedi à morte para matar os meus cansaços Não inventei de uma só vez esta distância Não entendi de uma só vez o entendimento A nossa vida é muito mais que a nossa infância A nossa morte é muito mais que o sofrimento Tenho um poema que te quero revelar Seara brava, lua cheia, quem me dera Breve novembro onde encontrei o teu olhar Para me perder de uma só vez na primavera