Naquela rua deserta Onde a esperança se revela Numa constante ilusão Há uma porta entreaberta Ao lado de uma janela Onde mora a solidão As pedras negras da rua Revelam que a madrugada Serve a sorte e o desejo Sob a candeia da lua Vê-se uma boca fechada No labirinto de um beijo Os sonhos desvanecidos Perdidos na desventura Das obras ébrias, tardias São presentes proibidos À espera de uma ternura Que morre todos os dias Ao fim da tarde, uma estrela Surge tão pausadamente Que nem pede para ficar Quase ninguém dá por ela Saudade que não se sente Já não se pode matar Na esquina bate o passado E os versos de uma quimera Contam a história de alguém Melancolia de um fado Nascido na primavera Mas não sabe de ninguém Naquela morada incerta Ao bairro da solidão Luz vermelha da cidade Há uma porta entreaberta Onde se perde a razão P’ra se morrer de saudade