Quando era mais moleque Guilherme teve um sonho breve Queria jogar futebol Igual seu ídolo bebeto Seu pai, muito atencioso e compreensivo Levou pra fazer escolinha (do “Curintia”) Pra ver se o menino tinha Alguma graça, alguma ginga Feliz com a chuteira nova Chegou com um baita entusiasmo no treino Que foi logo minguando enquanto Se percebia mei desengonçado Isso foi logo no primeiro dia O professor, de cara, se ligou Que o bichim era estabanado (pra diabo) Menino, vá logo jogar no gol! Ele não soube como reagir Quando deu por si já tava de goleiro Só faltou dizer que ele num queria Mas isso se via na sua cara, no seu desespero E eu tinha muito medo! (Quer dizer...) O guilherme tinha muito medo De levar uma bicuda na cara ou no saco E virar chacota ali no treino E era tão óbvio que ia acontecer o que sucedeu A pelota, com gosto, veio de encontro ao seu rosto Ele quase chorou mas disse que nem doeu Mas vendo que o menino ia fugir da bola nos lances seguintes O professor lhe botou pra jogar na zaga Antes mandasse logo pra arquibancada Acho que o vexame assim teria sido... bem menor Então, de zagueiro, ele foi com muita sede pra defender E, na sede dessa empreita, ele levou nas caneta, Um drible da vaca, elástico e chapéu Perdeu a dignidade em poucos lances (e muito dribles) Lances que seriam, de fato, bem bonitos, Não fossem os dribles sob seus pobres cambitos Acho que não precisava, assim, de tanta humilhação Completamente transtornado Depois do treino acabado Foi conversar com seu painho Que esperava logo alí do lado “Pai, vem cá Quero saber… Cê vai ficar de mal de mim Por eu ser perna de pau assim?