Vou contar o meu princípio não vão pensar que é moleza Sempre vivi agarrado com a miséria e a pobreza Trouxe o dom de ser poeta pra mais tarde ter defesa Já passei muito trabalho Vivendo assim que nem galho por conta da correnteza Meu serviço mais leviano foi prender bois em carreta Machado em corte de lenha, de pá abrindo valeta Abrindo corte de estrada no cabo da picareta Fui homem sacrificado Quem nem braço de aleijado esfolado da muleta Cantava só nos domingos não era assim como canto Eu também não nem esperava que um dia cantasse tanto Me chamavam de endiabrado e se eu era não garanto Pobre, bravo sem juízo E com os bolsos sempre liso que nem rostinho de santo E com um baralho na mão eu não era muito tanso O meu baralho marcado descobriam e davam o ranço Ali começava a briga minha vida era um balanço Fui ligeiro quem nem gato Eu era o tipo de pato que as vezes passava por ganso Depois de quarenta anos foi o que me fez o melhor Fui gravar, fiquei artista, vivo mais folgado agora Tenha carro, tenha casa, mas descanso poucas hora Eu sou que nem botão de roupa que tem casa mas não mora Sou que nem cinta em fivela Que entra por dentro dela e se vai pro lado de fora Nesse pedaço de chão eu fui muito sacrificado Eu as vezes sinto canseira só no lembrar meu passado Hoje a vida ta mais frouxa quem nem palanque em banhado Pelos filhos eu nem garanto Porque eu trabalhei tanto que eles nasceram cansado Ha, Ha, é isso mesmo vamos encerrar