Gonzaguinha

Corações Marginais

Gonzaguinha


Eles já estão ficando, eles já estão dormindo, no centro, no coração da cidade
Saem dos seus trabalhos e ficam já instalados, no centro no coração.
Da cidade
Sob os viadutos, sob todas marquizes - questão de comunidade.
Equilibrismo possível, malabarismo possível, dos corações, no coração.

Da cidade
Cobram-se com os jornais que falam da vida que vai nas veias, no coração 

Da cidade 
Comem migalhas dos pombos, fazem as necessidades, no coração 

Da cidade
Dividem as dificuldades como se devia fazer - questão de comunidade
Sonham o fim de semana, crianças, mulheres e camas, seus corações, no coração 

Da cidade
Suas mulheres guerreiras fazem a vida lá longe do coração da cidade
Ficam insones à noite, cuidam de suas crianças, nos seus corações 

Das cidades
O coração da cidade não abre nunca aos domingos, não vê esta impunidade
Crianças, mulheres e homens, brincando, sorrindo, se amando na festa da marginalidade 
O coração 

Da cidade não tem o menor respeito com os corações 

Das cidades
E os corações das cidades não voltam nunca pra caça, são prisioneiros

Do coração da cidade.