Minuano assobiando Empurrando uma garoa Um espelho d'água na várzea Tristonha a garça que voa Levando a gola do poncho Chapéu desaba por riba É o ritual das invernias Mês de agosto que castiga Quem ganha pão no arreio Não corta volta pra lida Desencilho no galpão Pra o Baio, milho quebrado Num gancho de Coronilha Chora um sombreiro encharcado Por riba de uma carreta Meu velho poncho estendido Assobiando qualquer coisa Mesmo só, vivo entretido Peleando com a saudade Que insiste a morar comigo Me aninho nos pelegos Pra enfrentar a noite fria Meu velho rádio de pilha Vai e volta a sintonia Ringe o galo do fogão O minuano assobia Vai ser frio de renguear cusco O radialista anuncia Tenho que saltar bem cedo Tem lida pra todo o dia Meus amigos me perguntam Se eu já não estou cansado Eu devia largar tudo E ir morar no povoado Vou fazer o que na cidade Se eu só sei gritar com o gado? Só vou pra comprar meus vícios Em domingos e feriados Gosto de viver solito Nos cafundó do meu pago " Quem nasceu de alma pura Sabe o valor do seu chão Trás a franqueza na alma E o amor no coração Por isso, rezo a Deus Que me dê força na vida Pra continuar nesse mundo Honrando a terra querida "