Uma borboleta branca posou em meu ombro e eu arriei Uma bala de canhão me acertou em cheio e eu nem notei Vago pelas ruas com o coração quebrado, mas a pose é de rei E se assim, de repente, fosse o mundo mudando? E na presença do ausente, nós andássemos sonhando? E se essa loucura crescente não causasse espanto E tornasse normal tanta gente rindo do seu próprio pranto? Voltei, sobressaltado de uma realidade viscosa onde sonhei Estar mais pela proza que pelo poema que eu havia amaldiçoado O peso da família, frágil, trôpego e cambaleante eu carreguei Com a cara deslavada e nobre, própria a um filho do pecado E se em falta do amor decente nos pegássemos cantando Uma canção tão doente que até calada continua gritando? E se lêssemos friamente o que eu escrevo rimando Poderíamos conter lentamente o que está em nós, delirando