Os privilégios que os reis Não podem dar, pode amor, Que faz qualquer amador Livre das humanas leis. Mortes e guerras cruéis, Ferro, frio, fogo e neve, Tudo sofre quem o serve. Moça fremosa despreza Todo o frio e toda a dor. Olhai quanto pode ammor Mais que a própria natureza: Medo sem delicadeza Lhe impede que passe a neve. Assim faz quem amor serve. Por mais trabalhos que leve, A tudo se of'receria; Passa pela neve fria, Mais alva que a própria neve; Com todo o frio se atreve. Vede em que fogo ferve O triste que o amor serve!