Eu moro lá na campanha, num rincão quase deserto Meu rancho é de pau-a-pique, o teto é de capim coberto Sombra boa e água fresca, no meu rancho, eu tenho perto Pra mandar lá no bolicho, tenho um piá bueno e esperto E um arvoredo completo com, até, laranja de umbigo Lá recebo meus amigo' sorrindo de braço aberto A prenda me enfeita o rancho e cuida meu jardim de flor Tenho um machado que corta igual uma serra a motor Tenho uma junta de boi que tem força igual um trator E tenho, na estrebaria, um cavalo corredor Que nunca perdeu carreira, tem raça de Bororó E o meu galo carijó é o meu relógio espertador Meu galpão tem fogo grande que, no inverno, me aquece Tem um candeeiro de sebo, clareia quando escurece Tenho o meu cachorro amigo, só morde quem não conhece Também tenho um oratório onde rezo minhas prece' Chega a noite, eu pego a gaita e canto versos pra lua Pra fazer trovas de pua, o' meus compadre' me aparecem Tenho moinho e tafona, alambique pra canha pura Minha lavoura é bem cuidada e dá planta com fartura Na minha horta existe qualquer tipo de verdura Tenho ervas naturais que qualquer doença cura E um casal que me acompanha que ninguém faz o desquite Minha faca e um revólver Smith que não saem da minha cintura O meu fogão é de barro, só faço boia e marmita Como mais carne de caça, paca, tatu e molita Pras crias se criar' forte, só dou leite de cabrita E a parteira e a cegonha todos anos nos visita' E eu fico muito contente, seja um piá ou uma menina Sou feliz com a minha china, cada vez tá mais bonita