Francisco Vargas

Velho Candeeiro

Francisco Vargas


Morreu um boi e eu tirei a goela
Enchi de sebo do rim do tambeiro
Botei pavio e fiz uma vela
Que, na campanha, se chama candeeiro
Sobre a carreta, ilumina a panela
Onde eu preparo o velho carreteiro

Penduro ele sobre o recavém
O arroz seca, eu ajeito o café
Candeeiro velho que clareia bem
Feito da goela d'um boi Jaguané

Tu já clareastes o rancho de alguém
De pau-a-pique, barro e Santa-Fé
Tu já clareastes o rancho de alguém
De pau-a-pique, barro e Santa-Fé

O vento sopra e tu acende mais
Mostra a macega onde o bicho deitou
Foi lamparina do' meus ancestrais
Muitos fandangos tu também clareou
Os tempos idos te deixou' pra trás
Porque a evolução nos iluminou

Lá na campanha não é mais usado
E a juventude inté' nem te conhece
Tareco velho num galpão guardado
No passar dos anos, num canto apodrece

Por este poeta, tu fostes lembrado
Nossa homenagem, o candeeiro merece
Por este poeta, tu fostes lembrado
Nossa homenagem, o candeeiro merece

Te desprezaram, rico traste antigo
Que, no passado, nos servistes tanto
Vim te provar que sou teu bom amigo
Em teu louvor, esses versos que canto
Deixa o galpão, vem clarear meu jazigo
Quando eu partir lá pro campo santo

Não sou nervoso e nem sofro de trauma
Nas horas brabas, eu sempre fui forte
Candeeiro velho, por favor, te acalma
Tu não te apaga nem com vento norte

Eu te escolhi pra iluminar minh'alma
Quando chegar o dia da minha morte
Eu te escolhi pra iluminar minh'alma
Quando chegar o dia da minha morte