Francisco Alves

A Saudade

Francisco Alves


Saudade, palavra doce
Que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fosse
Espinho cheirando a flor

Saudade ventura ausente
Um bem que longe se vê
Uma dor que o peito sente
Sem saber como e porque

Um desejo de estar perto
De quem está longe de nós
Um -ai- que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz

Um sorriso de tristeza
Um soluço de alegria
O suplicio de incerteza
Que uma esperança alivia

Nessas três silabas há de
Caber toda uma canção
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração

Um longo olhar que se lança
Numa carta ou numa flor
Saudade-irmã da Esperança
Saudade-filha do Amor

Uma palavra tão breve
Mas, tão longa de sentir
Que há tanta gente que a escreve
Sem a saber traduzir

Gosto amargo de infelizes
Foi como a chamou Garrett
Coração, calado dizes
Num suspiro o que ela é

A palavra é bem pequena
Mas, diz tanta de uma vez
Por ela valeu a pena
Inventar-se o Português

Saudade - um suspiro uma anseia
Uma vontade de ver
A quem nos vê à distância
Com os olhos do bem-querer

A saudade é calculada
Por algarismos também
<distância> multiplicada
Pelo fator <querer-bem></querer-bem></distância>

A alma gela-se de tédio
Enchem-se os olhos de ardor
Saudade-dor que é remédio
Remédio que aumenta a dor!