Eu hoje morri tão longe Mas ontem estava tão perto: Um homem quando não foge Parece quase um deserto, Que estando longe está perto Daquilo que vem mais cedo. A morte não temo, não tremo de medo Que venha o silêncio, que venha o degredo Não serei cativo, não direi segredo Vivo! eu vivo da seiva eu vivo da força Que trago escondida ou ternura ou corça De tão perseguida condenada à forca Morrida! morrida mas nunca morta Triste mas não vencida. A morte não bate à porta De quem morreu pela vida. Eu trago no peito a rosa vermelha Da nossa carícia da minha centelha A pétala de ontem a música de hoje Perfeita! perfeita mas sempre igual Rosa de um tédio total Invento a ternura renego a desgraça Eu sou o instante que o tempo ultrapassa Eu sou o mirante do largo da graça Mas desde a infância tão longe da raça Que já me esqueci dos gritos da praça E vejo a saudade por uma vidraça Que põe a cidade vestida de caça (bis)