Vou falar deles, vou-os lembrar Quero-os eternos Faço justiça pela minha própria voz Os desgraçados, os antigos, os modernos Os afamados, esquecidos, sempre sós Vou falar deles, vou-os lembrar Quero-os activos Parto epitáfios com a minha própria voz Antes que morram, apesar de pouco vivos Antes que sofram mais desgostos Sempre sós Vou falar deles, vou-lhes cantar A velha história Farei um palco com a voz que sai de mim Onde terão a sua noite de glória Com grande orquestra, com maestro e camarim Vou falar deles, vou-os lembrar, vê-los contentes Os desprezados, os melhores e os piores Os de voz própria, os já sem voz todos presentes Na grande gala em que eles sejam Os senhores Vou falar deles, vou-os lembrar Fazer notícia De quem amou mais o aplauso que os dinheiros Gente tão bela que achava uma delícia Fazer a borla para a ambulância dos bombeiros Vou falar deles, vou-os lembrar Dar-lhes um beijo Para que saibam que não esqueço esse tempo Em que sem chavo para comprar nem um desejo Dava a impressão de andar mesmo cheio de vento Vou falar deles, vou-os lembrar, pedir carinho Em homenagem dos que nunca se renderam Vidas inteiras descobrindo mais caminho Falo daqueles que não ganhando não perderam Vou falar deles vou-os lembrar pedir respeito Por todos esses que nunca andaram na berra Se no amor não se olha ao imperfeito Peço que amem os cantores da minha terra