Nasce a noite do morrer da luz do dia. Vive um homem do morrer de tantos outros Sobrevive um lusco-fusco que anuncia Um ciclone a sudoeste dos mais rotos. Nasce a flor da morte lenta da floresta. Vive o bicho do morrer de tanta planta. Sobrevive um vaga-lume que anuncia A escuridão de quem cala e já não canta. Nasce um livre na revolta da prisão Vive um homem muito preso à liberdade. Sobrevive aqui ao pé a tentação Anunciando a plena falta de vontade. Nasce a noite do morrer da luz de dentro. Vivem homens de apagar os candeeiros. Sobrevive o nunca termos muito tempo Que anuncia o nosso génio passageiro. Nasce o fácil de não querermos o cansaço. Vive a estátua que gostava de ser cristo. Sobrevive o gatinharmos passo a passo Que anuncia o reumatismo não previsto. Anunciadas que já foram as verdades Que restavam do desgosto e pouca esperança Vive em nós um sonho belo de vontades: Nasce agora, mesmo agora, uma criança.