Fausto Bordalo Dias

A Tua Presença

Fausto Bordalo Dias


Eu já nada sinto 
e afinal 
eu gosto de não sentir nada 
sozinho na calma das horas passadas 
tão só numa outra quietude 
num sossego tão so´ sossegado 
e esquecido 
eu me esqueça de mim 
aos bocados 
adormece-me um sono dormente 
que aos poucos se apaga 
um sonho qualquer 
mas não me acordes 
não mexas 
não me embales sequer 
eu quero estar mesmo como eu estou 
quietamente 
ausente 
assim 
a viagem que eu não vou 
nunca chega até ao fim 
é longe 
longe 
tão longe 
que de repente tu chegas 
tu brilhas e luzes 
na cor das laranjas 
tu coras e tinges 
a mancha da marca 
na alma da luz 
da sombra que finges 
e tu já não me largas 
saudade 
tu queres-me tanto 
e se eu lembro 
tu mexes comigo 
tu andas cá dentro 
à volta do meu coração 
no meu pensamento 
também 
e por mais que eu não queira 
tu queres-me bem 
e desdobras os mundos em cores 
e levas-me pela tua mão 
cativando o meu corpo 
a minha alma 
a razão 
só a tua presença 
é que me inquieta 
aquela outra ausência 
dói 
como um passado projecta 
aquele futuro que se foi 
p´ra longe 
longe 
tão longe 
que nunca se acaba 
esta inquietação 
se evitas momentos 
já quase finais 
e ficas comigo 
ainda e sempre 
um pouco mais 
tu nunca me deixas 
saudade 
tu nunca me deixas