O quarto do meu avô Já se sente um quarto de morto, já Muito embora vivo ele esteja aqui Nem sabe quão morto ele vive lá O quarto do meu avô Tem uma caca que desarma Na mesinha um retrato e uma flor Que ele usa como arma E conta e reconta e torna a contar Os casos do tempo de moço Herói das horas do jantar O mesmo herói da história do almoço O quarto do meu avô Tem um velho armário enorme Tão grande que inibe um sonhador E ele nem cochila enquanto dorme O quarto do meu avô Tem a extensão que a noite corta Tão escuro que não se enxerga a dor Tão profundo que não se abre a porta E reza e reveza a prece das seis Quem nunca foi religioso Agora é o que resta de um que foi três Dos três, o mais laborioso Quando ele veio pra nós Trouxe a viuvez no corpo de leão Trouxe a mala aberta, orgulho aberto Pijama, pinico e carrilhão