Estenio Vargas

Casa Velha

Estenio Vargas


É uma casa velha antiga
Conheço desde a mocidade
Mas sei que tem mais idade 
Se eu tivesse vivido duas vidas
Ali Sempre esteve  erguida 
Coisas que hoje não se faz
repetir ninguém é capaz.
Nela tudo é perfeito 
Tem arte até nos defeito
Coisas do tempo de traz.

Plantada encima do alto
Onde a vista é perfeita
Quando sol nasce e se deita
È bela sua paisagem
Parece até uma miragem.
Feita por nossa senhora
Que por ali também mora.
Cuidando sempre seu rebanho
O que não é estranho
Na virgem de toda hora.

As paredes tortas são de taipa 
Outras de tijolos são linheiras
Do chão até a  comunheira
Parece que  tudo é grande 
O alpendre  logo se espande
Pela frente e lateral
São muitos vãos no total
Com salas quartos e cozinha 
Madeirados com brabos e linhas 
Tirados todos do carnaubal.

Ripas e caibros roliços
De pau branco e pereiro
Não custor o dinheiro
Das construção moderna
Foi tirado da própria terra
Tudo feito a mão
A ferramenta  era foice e o facão
O serrote chibanca   e martelo
Um machado e até um cutelo
Foi usado na construção.

Suas janelas e portas
Rusticamente assentada
Com ferrolho era travada
Feito da própria madeira
Com uma régua travadeira
Tava feita segurança
Com muita reza e esperança
Nunca foi feito  arrombamento
Isto até o momento
Desde quando eu era  criança.

No alpendre central
Duas cadeira  de sola curtida
O  braço de madeira polida
Descendo até o pe de balanço 
Era sempre pro descanso
dos mais velhos  respeitado
fora eles só se via sentado 
Visita muito importante.
Um grande comerciante
O Prefeito ou Deputado.

O restante sentava
Nos tamburetes e batente
No parapeito tinha muita gente
E outros ficavam em pé
Quando era tempo fé
Ali se tirava um terço completo
Mamãe rezava quase em verso
O resto respondia.
Os mistérios, a ave Maria
E  oração do universo.

Na sala grande  principal 
Um sofá de madeira trabalhada
Cadeiras de sola trançada
Uma preguiçosa de listinha
E bem do lado ali tinha
Um radio de bobina e faixa!
Montado numa grande caixa.
Trazia a nuticia do estrangeiro
Num tinha tv nem jornalero
Era tudo na onda alta ou baixa.

Na parede da frente
Retrato de vovó e do vovô
Pintado meio sem cor
Devido ao longo tempo
Também ali vou vendo
Papai mamãe do lado,
Um pouco mais conservado
Tinha  Jesus Maria e José
Santo Antonio  São Francisco e SãoThomé
E outros santos lembrado.

Na imensa sala de jantar 
Com um tamanho de dotes
Uma quartinha e dois potes
Que Ficavam ali do lado
Com os copos acima pendurados
Apenas um tinha azeia.
Mas sujeira é  coisa feia
E pra deixar tudo arrumado
Cobria-se com pano engomado
Pra não cair pó nem areia.

Um pouco adiante
Se via um guarda louça fina
No verniz  cor laranja lima
Dentros dois três conjuntos
Parece pouco, mas era muito
Aparelho de jantar, chá e café.
Na gaveta faca, gafo e colher
Só era usado em dia de festa.
a  ordem  sempre era essa
Ou se a visita fosse, a mais fina mulher.

No centro da longa sala  
Uma mesa de cedro puro
Não tem buraco nem furo
E é  quase centenária
Essa peça lendária 
Pertenceu a meu avô
Que minha mãe erdou.
Após sua partida.
A madeira é toda curtida
Indicando o tempo que passou.

Na parede lateral
Um quadro da santa ceia
A única expressão feia
É de Judas que beijou
O retrato da falcidade ali ficou
Mas a fé foi concebida.
Pois toda vez que serve comida.
Naquela mesa de fartura
Todos rezam e procura
A oração mais agradecida.

Entrando na cozinha
Um velho fogão a lenha
É  bonito  que ainda hoje tenha
Mesmo com toda modernidade
Não importa toda idade
A Comida fica mias gostosa
Cosidas em labaredas sinuosa.
Daquele velho braseiro
Parece que melhora o tempero
E as receitas ficam  mais saborosas.

Um cucus de milho zaroi
Feijão,  carne de sol assada,
Carneiro, bode e panelada .
Sarapatel galinha caipira e cabidela.
Buchada ,Cosido de boi, assado de costela.
Seja suíno, caprino  ou bolvino
Isso eu como desde de menino.
Tudo que botar eu digo venha 
Quando é feito no fogão a lenha
Começo a comer em desatino.

Estirada naquele ambiente
Sempre numa Mesa velha cumprida 
Merendas e cafés e comidas.
Uma janela dava pro terreiro
A porta do lado vem primeiro.
Depois mais  outra janela.
Em cima parecendo uma passarela.
Uma taboa de queijo largo suspensa
Saídos todos da velha prensa
È  queijo qualho não é mussarela.

Do lado esquerdo 
O curral e a vacaria
Tira-se leite todo dia
Faz queijo coalhada e nata.
Manteiga da terra não falta
O sabor de lá é conhecido
Quem provou não é esquecido.
Esteja em qualquer lugar
O cabra vai ter que lembrar
Do tempo de casa velha vivido.

Quando é noite de lua cheia
O terreiro da frente é iluminado
A lua branca encantada
Parece que espia tudo ali
feito um olho que num quer dormir
Clareia tudo com tanta beleza
Que expressa com clareza
Aquela grande visão da lua
Vendo a terra toda nua
Com o puro olhar da natureza.