No recanto onde eu moro Ninguém vive de mutreta Passarinho logo cedo Já começa na represa Eu vou pro cabo da enxada Enxadão e picareta A noite eu entro feito Num joguinho de caxeta Vejo a lua e as estrelas E o risco do cometa Eu sempre tiro o chapéu Pras belezas lá do céu Que Deus me dá de gorjeta. As ruas aqui não tem Nem calçada e nem sarjeta São ruas do cafezal Onde o arado faz valeta É dali que tiro o ouro Todo final de colheita Eu não sou nenhum letrado Vivo longe da caneta Sou um soldado da terra Lá em baixo da palheta Pra defender o brasil Do cabo eu fiz um fuzil E da enxada a baioneta. Eu tenho duas vaquinhas A pintada e a preta É dali que sai o leite Na hora que eu puxo a teta É o leitinho das crianças Que ainda estão na chupeta Também tenho uma viola Muitas modas na gaveta A viola afinadinha Que parece clarineta Pra fazer a coisa arder Minhas modas de abater É pimenta malagueta. No dia que tem rodeio O berrante é a corneta Rojão estoura lá em cima Já vem pra baixo a vareta Meus vizinhos vão chegando Vem gente até de carreta Por aqui tem touro bravo Que logo vira o capeta Bicho bravo eu amanso É no bico da roseta É meu coração que diz Assim é que eu sou feliz Num cantinho do planeta.