[Periferia? Pô, me lembra uma pá de coisa Futebol, crianças, festa, bar Me lembra madrugada Esquina, sofrimento Lágrima e morte Periferia é assim] Duas da manhã Acordo meio naquela, Assustado com barulho de sirenes (pá-pá) Já deveria ter me acostumado Mas é difícil conviver com esse barato Ouvi falar que acertaram mais uma criança Está chegando a polícia, na sequência ambulância Fico a pensar (a pensar) Me nego a aceitar (a aceitar) Pois tudo que vejo agora, é foda Meu filho estará sujeito lá fora Não podemos continuar vivendo assim Só porque é periferia tem que ser ruim? Não! Vamos parar pra pensar Sem essa de violência, é só um toque Pois a cabeça está mal mas não é nenhum lóki Não quer morrrer, quer viver Quer curtir, quer crescer É natural, quer continuar É uma roleta russa, um dia vai entender, que Vitória, cadeia ou caixão, odeiam sempre você É uma escolha no escuro Sem pensar no futuro Ainda é tempo de voltar atrás Ouça a mãe que te chama Dê valor a quem te ama (Periferia é foda Mãe chora Na periferia) No bar, a rapazeada pede mais uma ceva E racha um truco a noite toda Falando de mulher, rap pesado, desta vida louca Muita idéia aqui rola até altas horas Na madrugada aqui é assim, contradições A toda hora é paz, é guerra, é sanidade É paranóia, é a igreja São meus irmãos de fé E me parece que ainda perguntam a Deus O que acontece? O que se passa na cabeça das crianças? Em média só quinze anos Já não pensam mais em bola, só correria E na esquina eu vejo uma escola vazia Aonde estão os alunos? Não vale a pena estudar? Não, a vida inteira e se formar Fazer o gosto do pai e da mãe Que daqui já se foram Tudo bem, Tudo que tem de bom conseguiu na noite Tá legal Puxar o gatilho é bem mais fácil Garoto infelizmente é um mal exemplo O fruto podre cai da árvore antes do tempo A vida é como um jogo Só há um vencedor Contramão, não me liga Não quero ser a próxima vítima da matina Tem cheiro de morte no ar O pensamento está distante, acho bom acordar Pois a bala já está na agulha (Periferia é foda Mãe chora Na periferia) A lei da selva é assim Predatória, é a lei da vida Não é história nem novela Eu conto, vou além É real, São José, é favela Bairro pesado Quem quiser venha ver Para comprovar é só ler os jornais Primeiro lugar, Mil novecentos e noventa e oito Muita chacina, violência e dor Zona Sul, Zona Leste, Oeste, Norte A morte não escolhe a idade nem o local É tudo questão de tempo, eu lamento Eu vejo uma grande nuvem negra E a família caminhando, chorando, Seguindo em fila, hora de despedida Decepção, sofrimento e dor, momento humano (Aí, tanto faz Quem já partiu está em paz Vacilou, capotou Caiu na rede é peixe) Sangue no olho No peito um crucifixo, Na mão um trinta e oito É moda, é foda, é lazer É o que se vê Nas ruas, vielas de terra, O cenário ao vivo Não é comédia, não Não é seu filho que está na nóia Ouvindo a mãe chamar Ouvindo a mãe chorar (Periferia é foda Mãe chora Na periferia)