Desde que eu me entendo por gente já sentia fome Minha mente não entende como sobrevivi onde A miséria mata, fome , desgraça Pra piorar meu pai nos trocou por cachaça Vai, levanta a cabeça olha pra frente Embaixo do sol quente os moleque sorridente Empina pipa, chuta bola foge da escola Vende latinha, olha carro, vai pedir esmola Tio, dá um real pra mim que eu tô com fome Minha mãe tá em casa com sete moleque tudo homem Tá desempregada, faxineira doméstica Não vou roubar, sou pobre mas tenho ética Meu peito explode ao ver nossa situação Enquanto tem uns boy ai gatando mais de um milhão Falar que tem justiça no mundo dos homens É o mesmo que entregar numa bandeja uma lebre prum lobo com fome Minha mãe dizia pra eu estudar e ser alguém Não me envolver com drogas nem com o crime também Presta atenção na aula é pro teu bem Que a tua nota vai se reverter só em nota de cem Sem noção eu viva no mundão, vários manos na prisão Me ofereceram um oitão pra fazer uns corre Mas eu disse não, ou tu é morto neguim, ou tu vai parar na prisão Tô de pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir De pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir Eu olho pra frente, lembro daquela gente esquecida Vestindo só o trapo, doente, ferida A culpa da miséria é dela, ou é da vida? Usa droga pra esquecer, irmão, não é suicida Não vem falar de oportunidade por que na cidade Preto pobre da favela não tem O racismo é foda, o sistema poda Muita gente é morta, pra poucos viverem bem Revirando lixo, parecendo bicho Perdido, caindo no abismo do capitalismo Humanismo pra quê? O importante é vender É ganhar ou perder Gestão, não é opção O povo tá precisando é de arroz com feijão, J'ão E não de um engomadinho, playboy tirando onda Mostrando seu poder enquanto a cidade desanda Vai destruir a cidade pra vender pros gringo Expulsar os pobres, não vai ter mais mendigo Vai ser a cidade dos sonhos, quem sabe? Ou é só ilusão, vai ser só uma miragem Pesadelo, se depender de nós Os moleque são feroz, não vão calar nossa voz Agora entendam uma coisa todos vocês O povo é grande, o povo é forte, não vai ser dessa vez Tô de pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir De pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir Tiram nosso pão, tiram nossa água Nosso edredom, tiram nossa mágoa Tiram nosso som Tudo por causa de reputação Apertam nossa mão, vestem nossa farda Pisam nosso chão, quebram nossa cara Chamam o camburão Tudo por causa de reputação Tô de pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir De pé, não há quem me derrube agora Eu tô de pé, não tem arrego pros pelego Eu tô de pé, tô de pé E é assim que eu quero prosseguir