O meu pai era caboclo Do tempo da monarquia Eu também sou caboclão Vim do jeito que eu queria Fui criado no sertão Com viola e cantoria Violeiro de antigamente Quando na viola batia Distância de légua e meia O tinido a gente ouvia Fui tropeiro e fui carreiro Num brasil que já crescia Era carro que cantava E cincerro que tinia As estradas do sertão Foram minha academia Cortando serra e baixada Conheci a geografia Tinha hora pra sair Mas pra chegar só Deus sabia Eu deixei o meu sertão Eu troquei de moradia Estou morando em são paulo Terra da garoa fria Conheci uma paulista Formada em filosofia Eu fiz um bom casamento Um tesouro descobria Quando a viola não dava A paulista garantia Quando saí pelo mundo Meu pai assim me dizia Meu filho vá devagar Gato que caça não mia Aos poucos Deus foi me dando Tudo quanto eu merecia Meu burrão já está na sombra Minha vida está macia Tem uma mina de ouro Quem sabe fazer poesia