Dikamba Wa Ufolo

Sol'dado de Herus

Dikamba Wa Ufolo


Neste universo
De diversos caminhos
Somos Suku e Olodum
Colorindo o candomblé

Embora há adverso
De diversos espimhos
Firmes e erguidos; somos um
Como Enfiges de Gizé

Venho do Ghana
Monomotapa e Songhay
Lá do Vale do Hapi
Que hoje é o Nilo que bebo

Sou uma flor africana
De Wangari Mathai
Ventre de Marimba Ani
E das costas de Ki-zerbo

Do Kilimanjaro
Até ao Lago Assal
Caçadores e colectores
Correm pelo resguardo

Da noite ao claro
Pelo substancial
Pastores e agricultores
Carrregando o mesmo fardo

Dos pés de pó
Vem o milho e feijão
Vem o amor e o prazer
Vem a busca sem sessar

Vê o griô
Com o saber e narração
Anta Diop a renascer
Em algures de Dakar

O sample (África)

Renasci Abulbakar
Quando o mundo naveguei
Achei o meu lugar
Lá em Núbia e Ta-Set

Vi-me a ver o mar
Na Kianda me entreguei
Com Ma'at a me indagar
Em algures de Kemet

Respiro altura
Dum homem Dinka no Sudão
Não recolho escravidão
Ngola Mbande me resguarda

Eu prefiro a cura
E viver na solidão
Do que estar com podridão
Revestindo a mesma farda

Deixe morrer
Nas entranhas do Saara
Reviver o Gama Pinto
E inspirar o Malcom X

Deixe escorrer
A força toda de Sankara
Nesta Áfrika que sinto
Que um dia será feliz

Trouxeram-me aqui
Onde a minha yalma me expulsa
Onde vive o corpo
Numa morte mais eterna

Fui ouros no Mali
Que deu vida à Mansa Munsa
Que deu do seu copo
Paz e luz da sua taberna

Ku-Zwela

Não quero ser cosmopolita
Não escrevo poesia bonita
Não penso, nem supomho
Se nem todo mundo me quer
Do mundo todo não posso ser
Nem aqui, nem no sonho

Se da minha cor ninguém pode
Ter amor ou ter respeito
Se qualquer George Floyd
É criminoso por ser preto
Não sou de toda parte
Que o mundo me perdoe
Mas, não sou de toda parte!