Escrevi e plantei Dei a luz milhões vidas Das quedas que levantei Sarei-me das minhas feridas E se não fosse eu Ainda assim seria muntu Fiz-me trevas, fiz-me breu Nisso vive ubuntu É vinho da uva Da videira da utopia Onde nada é vão Porque tudo lá é Sol Eu vinha da chuva Que a treva cuspia Coberto de trovão E o amarelo do arrebol Descalço de tabus Despi etiquetas Perdi a lucidez Fiz-me natureza Eu fiz-me luz Nas profundas gretas Bebi da nudez Tornei-me pureza Óh vida, me desata Deixa-me ser kandengue Me faz um afrocrata Como o grande simão bengui Se tudo aqui é vento Não passamos de sopro Que não morre, que não some Se converte a vapor Na pedra do alento Falhei como escopro Tudo corre e me carcome Tudo faz-me decompor Se o mundo não existe E for só coisa da cabeça Todo feliz é triste Todo ruido é conversa A verdade engasga Pois, a língua peca O tempo corre Não há nada que se queixa Se o livro rasga A árvore seca O homem morre Não há nada que se deixa Se o mundo fosse um deserto Que grão de areia seria Que seria decerto Longe dessa calmaria A vida é tempestade Para quem não faz escolha certa Quem rouba o pergaminho Mas não sabe o que escrever A vida é sempre tarde Para quem não crê na colheita Quem sabe do caminho Mas, não trilha no dever Vi grandiosidade Na minha pequenez Mas, nada me descreve Vida já não tem lembrança Vi minha deidade Se tornando soez Porque a reza entrou em greve E o amor perdeu a graça Olhos calados Para não verem o sofrimento Se evitam do tormento Do desamor dessa lar Braços calejados Choram pela esgotamento Lamentam do aumento Do preço de respirar Se o mundo não existe E for só coisa da cabeça Aqui nada consiste Tudo passa de crença A verdade engasga Pois, a língua peca O tempo corre Não há nada que se queixa Se o livro rasga A árvore seca O homem morre Não há nada que se deixa