Dikamba Wa Ufolo

Binduka (Muhatu) (feat. Nex Daimond & António Paciência)

Dikamba Wa Ufolo


E, essa chuva não cai porque quer
Pois, cair ninguém gosta
É choro do sacrifício duma mulher
Que carrega o filho às costas

Essa chuva não é pra plantar
Veio derrubar a minha kubata
E dessa água só me resta cantar
Para que o mal se espanta

Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê
Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé
Binduka Mãmã
Balumuka Mãmã

Vejo-lhe na quitanda
Lá nos becos da proeza
De quinda na cabeça
Procurando a fartura

Nas areias de Lwanda
Escrevendo a firmeza
Corre, mas não tropeça
Não conhece fratura

Vejo vida na sua reza
No seu canto e no olhar
No choro e no sorriso
Tem a mainga de Kimpa

Sua chuva tem certeza
Da terra que vai molhar
Pois sabe do que preciso
Pra manter a alma limpa

Conheço a sua história
Conheço o seu valor
Conheço-lhe nos gritos
Que descreve o seu produto

Conheço a sua glória
Sei bem a sua dor
Conheço dos atritos
Que faz um ser resoluto

Sei sobre o seu berço
E os tantos que deu a luz
Que salivam no seu rosto
E se escarnecem pela ruga

Vi todos adversos
No peso da sua cruz
O sabor do seu desgosto
E da vida sanguessuga

Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê
Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé
Binduka Mãmã
Balumuka Mãmã

Eu conheço o seu rumo
Bem sei o que procura
Está na dança da gananância
Do canto de quem governa

Que furta o seu aprumo
E perverte a sua cura
Presenteia a ignorância
Pra que vive uma baderna

Eu conheço os seus filhos
Seu pão e o seu abrigo
Conheço o seu trajeto
Nessa África Profunda

Eu provo do seu milho
O musseque do seu trigo
Onde aprendi seu jeito
Nas missangas da Melunda

Onde a vida desconjunta
E faz-nos como violino
Nos segura pela esquerda
Para tocar-nos à direita

Mamã, é a pergunta
Que foi feita ao destino
A certeza da perda
Na vida incerta

E por conseguinte
Não podemos discrepar
Nós somos a ferida
Que a dor não educa

Nascemos pedintes
Sem meio de escapar
Nos perdemos pela ida
Como uma folha caduca

Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê
Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé
Binduka Mãmã
Balumuka Mãmã

Só quem já ouviu
Viu o choro do teu sacrifício
Plantado nas nossas realizações, mamã
Essa lavra
Essa barriga que nos aquece
Na falta do ter
Nos consola com o que pode
Faz da pedra a carne da nossa sopa
Viste Papá? Mamã voltou
Luz veio e o kwanza se intelectualizou
Volta a esperança, volta ao povo
Volta ao mato
Volta a mátria
Antes da pátria que nos pariu
E essa terra que nos abriu as pernas
É mais nossa do que deles
Aqueles ali
Encostados aqui
Filhos das mães que dormem acordadas
Binduka, mamã!