E, essa chuva não cai porque quer Pois, cair ninguém gosta É choro do sacrifício duma mulher Que carrega o filho às costas Essa chuva não é pra plantar Veio derrubar a minha kubata E dessa água só me resta cantar Para que o mal se espanta Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé Binduka Mãmã Balumuka Mãmã Vejo-lhe na quitanda Lá nos becos da proeza De quinda na cabeça Procurando a fartura Nas areias de Lwanda Escrevendo a firmeza Corre, mas não tropeça Não conhece fratura Vejo vida na sua reza No seu canto e no olhar No choro e no sorriso Tem a mainga de Kimpa Sua chuva tem certeza Da terra que vai molhar Pois sabe do que preciso Pra manter a alma limpa Conheço a sua história Conheço o seu valor Conheço-lhe nos gritos Que descreve o seu produto Conheço a sua glória Sei bem a sua dor Conheço dos atritos Que faz um ser resoluto Sei sobre o seu berço E os tantos que deu a luz Que salivam no seu rosto E se escarnecem pela ruga Vi todos adversos No peso da sua cruz O sabor do seu desgosto E da vida sanguessuga Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé Binduka Mãmã Balumuka Mãmã Eu conheço o seu rumo Bem sei o que procura Está na dança da gananância Do canto de quem governa Que furta o seu aprumo E perverte a sua cura Presenteia a ignorância Pra que vive uma baderna Eu conheço os seus filhos Seu pão e o seu abrigo Conheço o seu trajeto Nessa África Profunda Eu provo do seu milho O musseque do seu trigo Onde aprendi seu jeito Nas missangas da Melunda Onde a vida desconjunta E faz-nos como violino Nos segura pela esquerda Para tocar-nos à direita Mamã, é a pergunta Que foi feita ao destino A certeza da perda Na vida incerta E por conseguinte Não podemos discrepar Nós somos a ferida Que a dor não educa Nascemos pedintes Sem meio de escapar Nos perdemos pela ida Como uma folha caduca Wenda ni dikanu, mamã Kajimbirilê Kalakala, kalakala, mamã, mamã Kudilé Binduka Mãmã Balumuka Mãmã Só quem já ouviu Viu o choro do teu sacrifício Plantado nas nossas realizações, mamã Essa lavra Essa barriga que nos aquece Na falta do ter Nos consola com o que pode Faz da pedra a carne da nossa sopa Viste Papá? Mamã voltou Luz veio e o kwanza se intelectualizou Volta a esperança, volta ao povo Volta ao mato Volta a mátria Antes da pátria que nos pariu E essa terra que nos abriu as pernas É mais nossa do que deles Aqueles ali Encostados aqui Filhos das mães que dormem acordadas Binduka, mamã!