Menina nem lembra se foi embalada Embala no ventre menino pretinho Que encolhido ouve sussurros e gritos Menina acorda tão cedo e corre Sem saber pra onde e canta seu canto mudo Tentando expressar esse mundo absurdo Menina nem lembra se foi embalada Embala no peito um pequeno pretinho Seu rosto suado e ainda é cedo Tudo que queria era ficar no ninho Olha ao redor tudo é laranja e cinza Roupa no varal faz ficar colorido No fim de semana tem samba e ciranda Pra curar a dor e botar um sorriso Menina nem lembra se foi embalada Embala no ventre menino pretinho Que encolhido ouve sussurros e gritos Menina acorda tão cedo e corre Sem saber pra onde e canta seu canto mudo Tentando expressar esse mundo absurdo Menina nem lembra se foi embalada No peito e no ventre embala o menino Já inventou rango, brinquedo e fez grana Mal pode esperar o fim da correria O corpo cansado no final do dia Só quer ficar viva e seguir seu caminho Mulheres periféricas lutam, amam, cantam Constroem seus mundos com as próprias mãos E são suas próprias bases Que não haja toque de recolher Pra tirar dela o direito de voar Que não haja escuridão Pra tirar a chama no fundo do olhar Que não haja bala pra matar o amor Da menina que embala Não há faca que vá cortar a sua garra Que não haja espada pra furar o escudo-peito Que não haja repressão pra matar o amor Das mulheres Anas, Rosas, Cleonildas Amandas, Andressas, Mirapotiras, Zuleicas Marias, Glórias, Lucianas, Nênas Clarianas, Paulas, Martas, Raquéis, Jaciras Margaridas, Sandras, Fernandas, Cecílias Sheilas, Camilas, Palomas e Maras Nem vem Nem tentem nos matar A nossa arma é o amor