Demétrio Xavier

O Pajador Perseguido V

Demétrio Xavier


Era um consolo pra o pobre
No trago andar mergulhado
Piazotes e homens criados
Amaldiçoados em vida
Como escravos da bebida
Passavam emborrachados

Tristes domingos aqueles
Por mim vistos e vividos
Jogados adormecidos
Sobre a areia amanheciam
Em sonhos desejariam
Morrer ou ser esquecidos

Riojanos e santiaguenhos
Saltenhos e tucumanos
Com seus facões mano a mano
Deitando canas maduras
Passando junto as agruras
E aguentando como hermanos

Ranchito, cancha de palha
Vivenda do cortador
Em meio a tanto rigor
Não faltava uma viola
Com que o pobre se consola
Cantando versos de amor

Eu mesmo que, desde piá
Unido ao canto cresci
Muita bolada pedi
E pra peonada cantava
A vida que eles levavam
É a vida que eu sempre conheci

Quando aprendi a cantar
Armava o laço curtinho
Sob o salso ribeirinho
Cresci enquanto o rio corria
Em suas águas eu via
Os meus sonhos de gauchinho

Quando senti uma alegria
Quando uma dor me golpeou
Ou uma dúvida assolou
Meu coração de paisano
Do fundo dos campos planos
Veio um canto e me curou

Naqueles tempos se viam
Coisas que já não se veem
Não se encontrava ninguém
Que já não tivesse seus cantos
Pra combater os quebrantos
E fazer à alma algum bem