Era um consolo pra o pobre No trago andar mergulhado Piazotes e homens criados Amaldiçoados em vida Como escravos da bebida Passavam emborrachados Tristes domingos aqueles Por mim vistos e vividos Jogados adormecidos Sobre a areia amanheciam Em sonhos desejariam Morrer ou ser esquecidos Riojanos e santiaguenhos Saltenhos e tucumanos Com seus facões mano a mano Deitando canas maduras Passando junto as agruras E aguentando como hermanos Ranchito, cancha de palha Vivenda do cortador Em meio a tanto rigor Não faltava uma viola Com que o pobre se consola Cantando versos de amor Eu mesmo que, desde piá Unido ao canto cresci Muita bolada pedi E pra peonada cantava A vida que eles levavam É a vida que eu sempre conheci Quando aprendi a cantar Armava o laço curtinho Sob o salso ribeirinho Cresci enquanto o rio corria Em suas águas eu via Os meus sonhos de gauchinho Quando senti uma alegria Quando uma dor me golpeou Ou uma dúvida assolou Meu coração de paisano Do fundo dos campos planos Veio um canto e me curou Naqueles tempos se viam Coisas que já não se veem Não se encontrava ninguém Que já não tivesse seus cantos Pra combater os quebrantos E fazer à alma algum bem