Trabalhei numa pedreira De pedrinhas de afiar Para quarenta ganhar A cada pedra polida Que era a seiscentos vendida Na hora de negociar Nem bem despontava o Sol E eu já andava aos martelaços Entre dois homens, no braço Quebrando pedras imensas Não tendo mais recompensas Que ver as mãos aos pedaços Outra ocasião, fui padeiro Lenhador num quebrachal Carreguei blocos de sal Cortei cana, e fiz na vida Uma porção de outras lidas Pro meu bem ou pro meu mal Fui, pra desembrutecer-me Aprendiz de escrivania Em letra miúda escrevia Fazendo o papel render Pra, mais miúda ver A paga que eu recebia Cansado dessas misérias Me larguei pra Tucumán Cortar ipê, arrayán Alisos e algarrobos Por um e cinquenta, um roubo E o lenhador perde o afã Sem fixar-me aqui ou ali Qualquer trabalho fazia E, assim, sucedeu que um dia Que eu andava de escoteiro Me topei com um tropeiro Que lá de Salta descia Me deu comichão de andar E fui falar com o capataz Que, de vereda, no más Me saiu com esta questão Tu tens mula?, Como não! Lhe disse: E fome demais Ao passar-se uma semana Repechava a cordilheira Fraldas, encostas, ladeiras Sempre buscando o poente Bebendo água de vertente E aguentando a soalheira Tanto quanto eu andei Quem sabe um ou outro andou E, assegurar-lhes eu vou Que assisti a tal pobreza Que até pensei, com tristeza Deus por aqui não passou Caiu do cerro uma vaca Numa cerração fechada E, à noite, apanhou a indiada Coureando e fazendo assado Desde esse dia, cunhado Mantive a faca embanhada