Sou matuto sertanejo, Daquele matuto pobre Que não tem gado nem queijo Nem oro, prata, nem cobre Sou sertanejo rocêro, Eu trabalho o dia intero, Que seja inverno ou verão Minhas mão é calejada, Minha péia é bronzeada Da quintura do sertão Por força da natureza, Sou poeta nordestino, Porém só canto a pobreza Do meu mundo pequenino Eu não sei cantá as gulora, Também não canto as vitora Dos herói com seus brazão, Nem o má com suas água... Só sei cantá minhas mágua E as mágua de meus irmão Canto a vida desta gente Que trabaia inté morrê Sirrindo, alegre e contente, Sem dá fé do padece, Desta gente sem leitura, Que, mesmo na desventura, Se sente alegre e feliz, Sem nada sabê na terra, Sem sabê se existe guerra De país contra país Cabôco que não cúbica Riqueza nem posição E nem aceita a maliça Morá no seu coração Cabôco que, nesta vida, Além da sua comida, O que mais estima e qué, É a paz, a honra e o brio, O carinho de seus fio, E a bondade da muié E assim, na sua paleja, Com a famia que tem, Não inveja nem deseja O gozo de ninguém Mas, por infelicidade Contra seu gosto e vontade, Munta vez, o pobre vê A muié morrê de parto, Gemendo dentro de um quarto, Sem ninguém lhe socorrê Morre aquela criatura, Depois, a pobre coitada, No rumo da sepultura, Vai numa rede imbruida Um adjunto de gente Uns atrás, ôtros na frente Num apressado rojão, Quando um sorta, o ôtro pega: É assim que se carrega Morto pobre, no sertão Fica, o viúvo, coitado! De arma triste e dilurida, Para sempre separado Do mió de sua vida, Mas, porém, não percebeu Que a sua muié morreu, Só por fartá um dotô E, como nada conhece, Diz, rezando a sua prece: Foi Deus que ditirminou! Pensando assim desta forma, Resignado, padece; Paciente, se conforma Com as coisa que acontece Coitado! Ignora tudo, Pois ele não tem estudo, Também não tem assistença E por nada conhecê Em tudo o camponês vê O dedo da providença