Quando eu era sitiante Lá no sítio da cascata Eu tinha um burro ligeiro Não precisava chibata, As ferraduras batiam Que nem pica-pau na mata Ali eu tinha fartura Um lavourão de batata, Porco gemia na faca Gordura estufava a lata. Toda tarde eu escutava O coachar do sapo entanha No ronco da cachoeira O monjolinho na manha, No dia que eu não caçava Eu ia fazer barganha Só a noite que eu voltava Naquela boca de entranha Eu jantava escutando Onça urrar na montanha. Todo o final de semana Eu ia na pagodeira Com a morena mais bonita Eu sambava a noite inteira Eu parecia um cuitelo Num jardim só de roseira Na viola que eu tocava Não usava braçadeira Em todas festas de reis Eu fui mestre de bandeira. Hoje moro na cidade Mas a vida não tem graça Não é como aquele tempo Que eu mostrava a minha raça, Aqui eu vejo miséria Bagunça e muita arruaça Lá na roça eu bebia Pinga fresca na cabaça Eu já fui caipira rico Hoje sou bobo na praça.