Eu aguento
O açoite que transpassa pelo tempo
E embora a minha cor seja forte
Mas não combina com seu branco neutro

Não lamento
A dor é ancestral e sem momento
E tudo que me sobra é a sorte
Não vou argumentar, seu branco isento

Vai dizer que não é nada
Que tal jogar com a pele errada?

O martírio e a luta negra
Que faz um preto gritar
É o mesmo vício que atrai à praia
E faz Caymmi cantar o mar

Sabe um tempo?
O sustento de um país lamacento
Movido pelo estalo do chicote
Moeda de valor pro salvamento

E até hoje
A fatura requer pagamento
Grilhão aberto, quase liberdade
Alforria versus livramento

Vai dizer que não é nada
Que tal disputar com a pele errada?

O martírio e a luta negra
Que faz um preto gritar
É o mesmo vício que atrai à praia
E faz Caymmi cantar o mar

O disfarce dessa pele branca
Esconde o homem, mas não o olhar
São tantas marcas e eu sinto todas
E o negro em mim também vem lutar
E cantar o mar, cantar o mar