O galo canta de madrugada Anunciando do romper da aurora O vento passa varrendo a estrada Levando o pó da saudade embora Na capelinha da Imaculada O sino bate marcando as horas Quando amanhece a passarada Faz alvorada no pé da amora Assim que o dia se faz clarinho Na mata se esconde o lobo guará Só fica o bando e macaquinhos Comendo frutas no pé de ingá O João-de-barro protege o ninho Contra o ataque do carcará O tico-tico lá no moinho Enche o papinho só de fubá O Sol desponta na cordilheira Trazendo paz ao invés de guerra As quedas d’água da cachoeira Forma riacho descendo a serra Lá na estrada range a porteira Na invernada o gado berra A chuva cai apagando a poeira A sementeira é o cio da terra Quando anoitece a Lua cheia No chão estende o lençol de prata Os curiangos sentam na areia Depois repousam dentro das matas E no silêncio da minha aldeia Ouço um murmúrio lá na cascata O som da viola quando ponteia Me presenteia com serenata Quem não conhece o lugar que moro Não imagina o quanto é bonito Aqui eu bebo água sem cloro Ar poluído só com meu pito Em minhas preces a Deus imploro Olhando firme para o infinito Com tantas graças feliz eu choro Como eu te adoro sertão bendito